domingo, 5 de junho de 2011

Crônica V São Tomé in Concert (Tereza Cristina)

Porta-Jóias de Sons*
(
V São Tomé In Concert, aos 28/05/2011)

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso"! ...
E eu vos direi, no entanto, que Olavo Bilac, em seu poema Via Láctea, não estava tomado pela loucura quando o escreveu, pois na noite do V SÃO TOMÉ In Concert era exatamente assim que a gente se sentia....arrebatado de tal forma por aquela música maravilhosa que tudo se tornaria possível, inclusive ouvir estrelas.
No início, grata surpresa, música atemporal dos anos 60 que embala todas as gerações desde seu nascimento e abre pra nós uma possibilidade real de ter conosco em momentos sociais preciosos e marcantes, jovens (inclusive a moça), que materializaram a Orquestra AJAC. Aplausos...
E o anfitrião a desfiar palavras doces e cheias de expectativa do que estava por vir. E para atendê-la se abrem as cortinas para a “Pequena ‘Grande’ Mulher” que, em sua simplicidade e singeleza, se faz importante pelo que consegue realizar com nossas crianças e pré-adolescentes numa viagem musical brasileira e internacional onde mereceu destaque o Rei do Pop e as vozes infantis herdadas dos ancestrais. Palmas aos montes pra ela e sua trupe. Era nada mais, nada menos, que a Banda de Flauta Doce “Recordare”.
E as estrelas em seu brilho imenso continuavam a ser ouvidas.... e a murmurar.
E mais uma vez o palco é uma arena pronta para receber o show, é quando o dileto “Mago das Cordas” entra para dar fôlego aos sopros que viriam mais tarde e as pequeninas “Robertas”  e companhia deram seu recado, independente da alquimia acústica, pois bem mais que as mãos, eram aqueles corações que batiam nas cordas dos violões da Orquestra de Violão “Violas do meu Sertão”. Aplausos inúmeros por todos esses motivos.
Ah!!!! São Tomé, por ti batem nossos corações ao grito de lamento do anfitrião que nos trouxe notícia indesejada, mas serviu para agradecermos a Deus a dádiva de estarmos ali naquela noite ímpar e para abrimos ainda mais nossos espíritos para o que viria em seguida.
E eis que surge um “Príncipe de Ébano” e seus súditos trajados de rosa como a dizerem: _ Eu sou a música e música não tem sexo...é rosada ou azulada, pois a cor está nos olhos de quem vê.
E Sua Alteza ao levantar e abaixar os braços fez ecoar um som que era divino e inebriava nossas almas e a voz do cantor, maravilhosa, completava o espetáculo, o primeiro espetáculo além-muro e por ser o primeiro ficaria gravado para sempre no coração de todos os que tiveram o privilégio de estar ali, naquela hora e naquele lugar, onde o “rabo do jumento” era a última coisa que importava, pois o que estava se vendo era um lindo “cofrinho de amor”, tal a magia e o romantismo que assolavam o ar. Contam que estava ali ao vivo e em cores a Filarmônica “Elino Julião” da cidade de Timbaúba dos Batistas que mereceu demorado coro de mãos se batendo em agradecimento ao deleite, ora, proporcionado.
Suspiros era o que se ouvia, além do burburinho entre as estrelas sobre o que tinham acabado de ouvir e mais uma vez o anfitrião com sua voz inconfundível fez um novo anúncio.
Era mesmo uma noite de estrelas, céu, pois até um elegante anjo de cabelos encaracolados desceu vestido numa veste negra e acompanhado de uma legião vestida da mesma cor por quem nossos corações se dobraram e foram dobrados por muito mais tempo até que fosse encontrado um “maluco beleza” para coroar de êxito àquela viagem musical que não merecia nenhum pedido de desculpas do anjo, pois a felicidade e o prazer que ele nos deu ficarão entranhados por muito tempo nas dobras de nossos corações. Mais uma vez as mãos se bateram em coro uníssono para agradecer a Filarmônica da cidade de Vera Cruz.
Que noite mágica...tudo era grandioso... príncipe, anjo, mas faltava a finalização no tom rosado para que, tal qual o côncavo e o convexo, homens e mulheres estivessem juntos e se completassem nos proporcionando em igual quantidade fortes emoções. E o anfitrião numa emoção derradeira, fez soar a última trombeta.
E ela veio... veio com suas ricas e lindas tranças feito Rapunzel e como a moça do conto de fadas jogou-as para que todos nós pudéssemos subir a torre do castelo e lá no alto pudéssemos nos deliciar com aquela música que, a exemplo da música do anjo, dobrava nossos corações. Ao pedido de mais, passeou e até encontrou o lobo que foi bonzinho e nos deu uma linda canção, preparando-nos para ouvirmos aquela que mexeria com o coração dos que são parentes dos ratos, mas que seriam em breve resgatados pelo som animado do gênesis da noite que contagiou a multidão que cantou, dançou e só saiu na vassoura levando em si um gostinho de quero-mais e até breve, jamais adeus.
E no meu pota-jóias pessoal e intransferível, embalada pelos abraços finais, guardarei a sete chaves a riqueza dos sons captados pelos meus ouvidos e coração, além daquele diálogo que só eu mantive com as estrelas numa noite inesquecível de musicalidade.
...E eu vos direi: "Amai para entendê-las:
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".

Teresa Cristina da Silva
São Tomé/RN





* O título do texto foi inspirado pelo título da atual Exposição do artista plástico são-tomeense, Erasmo Andrade – “Porta-Jóias de Cores”, na Galeria Conviv’art da UFRN, a qual tive oportunidade de prestigiar em sua abertura no dia 26/05/2011.

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